Certa vez ouvi Ferreira Gullar dizer, numa entrevista para a televisão, que o seu amor por São Luís era algo que ele se sentia incapaz de explicar ou descrever. A frase me surpreendeu primeiro porque eu supunha que um poeta de seu porte fosse capaz de verbalizar qualquer sentimento. E a sua candura ressoou em mim, muitas vezes obcecado por lugares em determinados períodos da vida, ao abrir a possibilidade de admitir que às vezes simplesmente não há resposta a encontrar. São Luís (MA) Pela mesma época cogitei – agora por conta própria – que a relação de alguém com a cidade é mais complexa do que com qualquer pessoa. As pessoas vêm e vão, falecem, os rastros dos ancestrais um dia se apagam, mas a cidade está sempre lá, de uma ou outra maneira. A cidade nos precede e nos sobrevive. É o personagem esférico por excelência. Tremé , seriado pouco conhecido, parece fundar-se em uma constatação parecida. A partir de um recorte de Nova Orleans, especificamente do bairro que dá título ao pro...
(textos esparsos de R. Coelho)