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Marte comparece

Me equivoco una y otra vez
Y te puedo asegurar
Que el paso de los años
No impide que vuelva a tropezar

Volvería a hacerlo por amor
Si acaso fuera
Si fuera necesario
Cometer de nuevo el mismo error
Si acaso fuera
Si fuera necesario
(“Nada que perder”, Robe Iniesta)

Já tinha passado a metade das minhas férias (umas das últimas) quando, sem explicação, comecei a me lembrar de um seriado visto anos antes. Sem meu arquivo à mão e com recordações muito vagas do programa, passei um certo tempo em pesquisas fracassadas até reencontrar Missions. Somada a isso, a relativa dificuldade de conseguir uma cópia comunitária por meios semilegais (não está em nenhum serviço de streaming) acabou por instaurar uma certa aura de escassez que lembra o que descreve Henry Miller bem no início de The Books in My Life: “Uma das primeiras coisas que associo com a leitura de livros é a dificuldade que enfrentei para obtê-los”.

Ao começar a rever o seriado, porém, a expectativa se mostrou exagerada: os primeiros capítulos, apesar dos empréstimos de Red Mars, do Kim Stanley Robinson, não são primores de roteiro nem de diálogo. Acompanhando as cenas confusas e vagamente familiares, eu me perguntava por que a lembrança daquela história tinha decidido puxar meu pé. Talvez por ter assistido pela primeira vez nos inícios profundos da pandemia, cogitei.

Logo surgiram ocupações bem melhores, novos roteiros de férias e Missions ficou de lado. Mas não esquecida. Nos últimos dias de descanso, já de volta para casa e precisando de alguma distração mais passiva, retomei a primeira temporada, que passa a explorar desdobramentos muito parecidos com os de Missão: Marte, do Brian de Palma.
 
🚀
A certa altura, a narrativa passou a me interessar menos do que a figura da protagonista, Jeanne Renoir, vivida por Hélène Viviès. Às vezes vasculhamos o rosto de alguém até descobrir com que pessoa conhecida ela se parece, uma procura que parece a tentativa de resgatar aquela palavra que estava na ponta da língua mas não vem. Cogitei até a Maureen Corley, de Full Throttle. Embora Jeanne tenha de fato alguns traços em comum com conhecidas minhas (e com a Maureen), ainda não era isso. 
 
"Whenever I smell asphalt, I think of Maureen" (Ben Whatsisname)

Continuei a assistir e cheguei à parte em que se adensa a relação que Jeanne tinha com o pai, quem – num elemento ao que parece agora obrigatório em “seriados espaciais” – apresentou a ela o cosmo com um telescópio no quintal. Ele anunciava, nos dias mais favoráveis, que Marte estava no quadrante, não por acaso o título do melhor tema da trilha sonora, Mars est au rendez-vous. A vontade de observar a protagonista suplantou então o interesse no resto da história. 

Já tinha me acontecido antes: perceber a persistência de minhas reações mais inatas e dos interesses básicos enquanto outra parte da mente lidava com maquinações complicadas e abstratas. Algo que me dava até certo orgulho, na verdade – notar a convivência do “rasteiro” e irrefletido com o “elevado”, que não era comprometido por essa proximidade. Um pouco como a constatação, na infância, de que era capaz de dedicar ao isolamento contemplativo de esperar ondas as mesmas horas compridas das revistas e revistinhas, dos videogames, da enciclopédia e do computador. 
 


Enquanto os tripulantes responsáveis pela maior façanha da história – pousar em Marte – lidavam, no outro mundo, com dilemas éticos prementes, altas cogitações tecnológicas e mistérios sombrios, eu me via cada vez mais concentrado na interação dos cabelos encurtados de Jeanne com seu rosto e seu traje, no contorno de sua mandíbula, nas sutilezas expressivas de seus supercílios. 

Missions acaba por se firmar como uma história rebuscada que gira em torno de algo simples, atemporal: o amor de pais por suas filhas, primeiro do pai de Jeanne, depois de William Meyer (o bilionário por trás da expedição) por Alice/Irène. Observando de longe o folhetim mirabolante se desvelar na tela, eu olhei também para mim mesmo com outros olhos: a convivência entre instinto e intelecto já não era a mesma, a curiosidade de saber como a tripulação sobreviveria ou escaparia de Marte encolheu diante da investigação da face do planeta, do estudo das orelhas, das clavículas, dos olhos pretos e faiscantes de Jeanne Renoir. Alguma coisa ferventava em mim enquanto se sucediam os capítulos curtos. 
 
Eu saberia se tivesse me apaixonado pela personagem, como pela Annabel (Jodie Foster) de Se eu fosse minha mãe, décadas antes. A explicação tampouco seria um fascínio pela aparência da atriz. Simplesmente, a contemplação de uma mulher e seus trejeitos, de uma criatura igual a mim, da porção universal da nossa raça – a primeira entidade que vemos e tocamos ao existir, com boa probabilidade também a última antes de morrer – sobrepôs, com sobra, a atração por mistérios cósmicos e revoluções científicas. 

😍
 
A reverência à razão e a disciplina da curiosidade foram esquecidos durante o exercício de examinar Jeanne em sua figuração material e suas reações. Eu abracei aquela inversão, que veio acompanhada: o estoque de reflexões, anotações e elaborações que havia ficado engavetado durante as férias agitadas despencou no meu colo de uma vez, ali mesmo no sofá, nos últimos dias antes de retomar o trabalho, olhando a televisão. 

Não foi só o interesse nas viradas do roteiro que recuou. Quase tudo a que dou importância e dedico tempo se fez vazio, frívolo, desperdício de tempo e distração. Às vezes, quando recobramos a sobriedade, nos espantamos com alguma fixação ou ilusão, surgida durante a intoxicação, de que ainda nos lembramos. De dentro daquele estado, vi as coisas, o status e a admiração alheia, as comparações, os diplomas e as carreiras se dissolverem no ar. Não como bobagens da juventude que superamos, mas como miragens que voltam para a sua inexistência de sempre. 

Entrei num estado que só havia conhecido numa ocasião, muitos anos antes. Quando era ainda bem mais jovem e com muitas coisas por fazer, quando a leveza teve algo de eufórico, de celebração da conexão que eu descobria com os arredores e com a existência, um conforto em ser até então inédito. 
 

Desta vez, o fenômeno principal foi o desaparecimento das distrações e das construções mentais que edificamos em torno de quase tudo. 

Soube com certeza de escala molecular que não sou filho nem imagem de nenhum deus, não sou penitente nem repetente de outras vidas, não tenho alma imortal que transite entre planos astrais, não sou um ser em evolução desde o início dos tempos. Que não vim aqui com um propósito, não há destino traçado para mim, não estou à mercê do querer de deuses. 

Que os astros e constelações não regem meus humores e manias, meu corpo não é templo sagrado nem morada de deuses, não falo com os mortos, meu espírito não vai para outra dimensão quando eu morrer. Que aqui sempre estive e vou ficar, neste chão e neste ar está tudo que sou, fui e vou ser, tudo que posso querer, que quero e que me falta. 

Como se já não soubesse, senti a injeção da consciência de que não tive nem terei outras oportunidades; de que errei, aprendi e me arrependi mas não sou uma flecha que segue reta e implacável para um futuro mais sábio e “evoluído”. Não. Já esqueci algumas lições de muito tempo atrás, se passar tempo bastante, pode ser que repita erros e caia em armadilhas já visitadas: tomara que caia, aliás, será sinal de que demoro aqui, de que continuo a explorar o bosque. 
 
💕

Não vim aqui com uma missão, aliás, não vim de parte alguma, estive sempre aqui, aqui vou estar. Não vim a este mundo por nenhuma razão porque não há outro mundo. Só setenta quilos de improbabilidade fragilíssima me separam do nada e do jamais, setenta quilos de acaso inexplicável e de uma complexidade tão indescritível que, se tudo terminar agora, muito mais do que uma explicação para o fim, algum curioso poderia perguntar como fui possível. 

A estranha tomada de ciência se expandiu para além de mim. A vaidade não desapareceu porque seu objeto se revelou ridículo, ela se desfez porque seu fundamento nunca existiu. Não “vim a este mundo” por nenhuma razão porque nada tem razão para acontecer, a vida é uma força de acaso e de tempo. Projetar sobre a vida a nossa noção de “sentido” ou o conceito de razão é o delírio mais esdrúxulo de projeção. Alguém pergunta se o universo dormiu bem, se tem medo do escuro, se prefere açúcar ou adoçante? 

A força de acaso e de tempo que é a vida é o grande mistério, e o único que não precisa ser desvendado, porque está aí para ser desfrutado. O resto é bobagem. Não falo só de conquistar reinos e bilhões, da glória e da fama, dos palácios, foguetes, iates e cacarecos: que é uma vida iluminada e de paz diante do milagre que já é a própria vida? Construir o tratado definitivo de filosofia só se faz em vida, então no fundo tudo já estava feito e pronto. 
 
💀

Não é ridícula qualquer ideia de fidalguia, filiação, nacionalidade e nobreza diante da profundidade das nossas linhagens naturais? Que orgulho pode advir de descender dos faraós, de Abraão ou de Aruanã se somos 90% idênticos às onças, 60% às goiabas, se somos primos de tudo que pulsa no mundo há quatro bilhões de anos? Que serventia o apego a algum pedaço do planeta se nossa raça se conformou como é justamente por fazer-se em casa em qualquer lugar, mais do que qualquer outra? 

Naquele sofá, eu senti nos nervos o eco da similaridade genética quase integral com os chimpanzés que se embriagam de fruta na floresta, que sempre souberam que este mundo estava pronto e que não temos que fazer coisa alguma além de descansar na mata, abrilhantada pelo fermentado.

Os elefantes que se embriagam de marula passada não têm que, os botos que saltam ao cair da noite não têm que, as missões que nos impomos são alucinações messiânicas sobre a nossa própria importância. O mundo estava tão pronto para a nossa existência quando nasceu o primeiro homem quanto este sofá foi feito receber qualquer um que nele queira se sentar.
 
 
🐘

Ainda assim, porque amamos – como Jeanne e Alice a seus pais e vice-versa – às vezes viver dói. A mãe chimpanzé que carrega o filhote morto sabe bem que ele morreu e não vai acordar, a questão é que dói muito. Doem-me os 90% de parentesco genético com a mãe elefanta que arrasta o filhote morto pela trombinha, quilômetros e quilômetros, até encontrar alguma cova escondida para deitá-lo de pernas para cima e cobrir de folhas e terra. 

A verdade do amor não é construída como um projeto de viagem a Marte, ela também já andava por aí quando andou o primeiro mamífero de duas pernas. Vai ver é a única verdade, vai ver passamos a vida toda distraídos, afastados da única verdade que o macaquinho do laboratório do Dr. Maslow, que se agarrava à boneca com pelúcia e feições familiares, à custa da própria fome, em detrimento da outra, que dava leite mas nenhuma esperança de amor, já nasceu sabendo. 

Indiferente às minhas epifanias, a segunda temporada se seguiu, com cenários mais amplos e ousadias ao estilo Lost, como, por exemplo, um encontro entre caçadores da idade do ferro e astronautas numa mata virgem. Aproxima-se de Contato, de Robert Zemeckis, em que o maior empreendimento conjunto da humanidade culmina no encontro da Dra. Ellie Arroway com uma entidade de alguma dimensão remota que adota a aparência de seu pai: outra triangulação entre pai, filha e a fronteira do cosmo.
 
Nenhuma onda à vista

A terceira temporada, que adota um tom bem mais místico e revoluções temporais ao estilo de Dark, ainda me brindou – como costuma, inexplicavelmente, acontecer nesses processos epifânicos – com ponderações precisamente alinhadas com o que eu vinha processando: “Não existe resposta. Você é inteligente demais para achar que o mundo tem um propósito”, disse Gemma (Natasha Andrews) a Ivan Goldstein (Vincent Londez) no último episódio da segunda temporada. 

Já perto do fim da história, Enki, personagem crucial e enigmático, atesta: “O homem não evoluirá por meio do pensamento, da moral ou da filosofia. A biologia sempre o impedirá de se erguer mais alto”. Para nossa sorte, a biologia é a nossa ciência mais antiga, a que nos une a bilhões de anos de evolução e a tudo que vive. O pensamento, uma ferramenta, que, além de viabilizar tratados de filosofia, permite descobrir que planta comer, quando pescar cada peixe e calcular a trajetória do bólido que pousaremos em Marte. 

A filosofia é aliás outra ferramenta, aquela que usamos para lidar com a nossa busca por sentidos e que, um dia, deve vir a concluir de uma vez por todas que o amor é a única verdade a que podemos aspirar. O mesmo amor que leva baleias a encalharem de propósito quando alguma do bando morre, porque dói muito, e que nos torna indiferentes à falta de “comprovação científica” do suicídio cetáceo coletivo porque o amor, não raro, floresce com força a partir das maiores ficções. 
 
🐋

Se o amor é a única verdade, a única verdade que nossa biologia imemorial confirmará uma, outra e todas as vezes, então a solidariedade é a única lei, o nosso único ter que. O pensamento e a filosofia culminaram na verdade do amor e na lei da solidariedade enquanto eu olhava a história que alguém, muitos alguéns, engendraram e encenaram anos antes. 

Deste sofá da verdade, do olhar para mim e para tudo, pouca coisa ficou. Mas ainda quero escrever histórias, daquelas que têm a ver com a nossa estranha necessidade de sentidos, daquelas que, embora inventadas, pavimentam os amores mais palpáveis. Se tudo que se expressa é mensagem, toda solidão ou alucinação de autossuficiência só pode ser morte. 

Que será de uma pirâmide se não houver quem possa admirá-la, da medalha sem plateia, glória sem testemunhas? De que utilidade o tratado final da sabedoria se ninguém estiver por aí para escutá-lo? Só se experimenta a existência na confirmação da alteridade, o que todos quiseram sempre foi o amor, ainda que sob a forma de admiração, reverência e glória. 

Não existe história sem leitor. Sem alguém que me responda e me conteste, como posso saber que continuo aqui? Quando conversar estiver interditado ou se tornar impossível, que será de cada um e suas histórias? 

🤖🐒

No sofá de fim de férias afundei no abraço que me assombra, coloquei no colo a ideia de que um abraço pode ser o clímax de uma vida quando se descobre que o amor é a única verdade. Quando fica claro, no plano medular, que não há honra nem fortuna que supere o acolhimento de um lar, e nem suplício pior do que um desamparo. 

Não vim com nenhuma missão nem propósito. Que projeto, que façanha faria sentido comparada à euforia de vir dar numa vida moldada sobre um planeta inteiro, improvavelmente belo e hospitaleiro, à nossa disposição? O Eldorado não está no outro continente nem em Marte, Shangri-lá e Yvy marãe’ỹ não se erguerão quando cumprirmos nossos teres que, quando algum comitê interdimensional nos aprovar como “elevados” e “prontos”. Tudo sempre esteve aí, sempre à disposição, desde sempre.
 
Quem sabe, numa quarta temporada de Missions, outros também não suspeitem, ao se fixarem no olhar caloroso de Jeanne, que não há muito mais além disso, que as respostas de Marte eram mais fáceis de encontrar do quintal, pela luneta, entre pai e filha, do que na superfície gelada e desértica. Ou talvez, no último episódio, numa cripta poliédrica, escondida em alguma gruta misteriosa do mundo vermelho, alguém finalmente abra uma urna que contém, numa folhinha de caderneta, o recado de Manolo Chinato: “ama, ama, ama y ensancha el alma”.

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