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Mostrando postagens de 2019

Atlântico e Pacífico

(Aviso: contém menções aos enredos de The Affair e História de um Casamento) The Affair sempre foi um seriado sobre relacionamentos antes de tudo. Na primeira temporada, os episódios divididos entre dois pontos de vista pareciam a forma ideal de apresentar a investigação de assassinato que deu o contorno do programa. Uma vez esclarecidas as principais circunstâncias da morte, porém, o formato parece “cansado”, e intitular cada meio episódio com o nome de algum personagem passa a ser um apego a uma tradição já sem grande funcionalidade.  Na quarta temporada, quando todos os principais personagens estão morando em Los Angeles – Noah a contragosto, para manter-se próximo de seus filhos – o recurso volta a fazer sentido, e ao mesmo tempo o enfoque volta-se de novo às dificuldades, idas e vindas e reviravoltas das primeiras relações apresentadas pelo seriado.   No longa-metragem História de um Casamento , os protagonistas também se dividem entre Nova York e Los Angeles. ...

Sidarta e o Capitão

Acabo de assistir a Capitão Fantástico , um filme interessantíssimo que, como todas as histórias que exploram a vida nos limites da sociedade urbana, me deu o que pensar. Pouco depois, conversei com alguém que, um pouco como eu há muitos anos, tomou contato com o meio corporativo-glamouroso por meio de um estágio.   Ouvindo as descrições sobre o ambiente jet set, de coquetéis, meios ilimitados e mimos do escritório, lembrei-me de como o breve contato com advogados de renome, causas de valores altos e contratos importantes me provocaram certa empolgação quando universitário. No meu caso, porém, o efeito logo se esvaiu, e o comportamento das pessoas que se identificam de verdade com tudo aquilo se tornou ridículo aos meus olhos. Assim como essa colega, eu poderia ter explorado a senda do profissional do futuro, me mudado para São Paulo para trabalhar cada vez mais horas e vestir roupas cada vez mais sofisticadas. Passar cada vez menos tempo fora da firma e receber fortunas cada vez...

Entrevista com Steve Jobs

Quem não viu está perdendo "Piratas do Vale do Silício" , um filme de 99 sobre a disputa pelo mercado de computadores domésticos (não chegavam a ser bem "pessoais" ainda). Tem boas histórias e diverte. De tom mais jornalístico, o documentário "O Triunfo dos Nerds: a ascensão de impérios acidentais" , do Bob Cringely, também é interessantíssimo, e em certa medida detalha os eventos do outro filme, trazendo entrevistas com a maioria dos envolvidos. Foi produzido para a televisão em 1996, bem próximo dos fatos. A "corrida" do desktop foi um tema que me interessou bastante durante anos, então, além desses filmes, li e assisti a bastante material adicional, inclusive às fantásticas apresentações sobre o computador Alto e seu sistema Star, da Xerox. No frigir dos ovos, saí com a impressão de que Steve Jobs era brilhante, porém implacável e até traiçoeiro com seus colaboradores. Oscilei entre a sua presciência do protagonismo que os PCs teriam na ...

Pour la peau

Em Pour la peau , duas pessoas que trabalham em empresas distintas, porém no mesmo prédio, encontram-se por acaso numa festa nas dependências do edifício. Sem trocar muitas palavras, vão a um banheiro e começam uma rotina de encontros silenciosos, simples na logística e sofisticados na exploração do sexo. São casados, mas não entre si. É convincente que a ausência de rituais de corte e sedução os empurre para um arrebatamento continuado de desfrute físico desassociado de expectativas e maquinações românticas. Nesse espaço, as possibilidades e as sensações cruas do sexo dominam os pensamentos de ambos os protagonistas de modo parecido ao abuso de substâncias entorpecentes. Mathilde se torna "um verdadeiro vício" O álbum delineia bem a obsessão erótica como uma enfermidade. E dá o que pensar: se uma febre ou depressão deformam a perspectiva do paciente num sentido, de modo que o pior trabalho, uma fila de hospital, uma missa, qualquer coisa seria preferíveis àquele p...

Reconhecimento a Frank Black

História Pessoal “Frank Black” é um dos pseudônimos de Charles Michael Kittridge Thompson IV, um (quase?) antropólogo americano nascido em Boston na década de 1960. Buscas na rede, a Wikipédia e outras fontes vão naturalmente destacar a sua ocupação de músico e compositor em detrimento da formação científica. Porque Frank foi compositor e vocalista de quase todas as faixas marcantes dos Pixies, um dos grupos mais influentes da década de 1990. Assim como dizem do Velvet Underground (grupo dos lendários Lou Reed e Andy Warhol), os Pixies não foram ouvidos por muitos mas quase todos os que os ouviram formaram suas próprias bandas. Estou entre os poucos que ouviram Pixies e não tentaram tocar em banda nenhuma. Nunca toquei nem cantei, aliás, mas fui daqueles adolescentes que sentiram o movimento das partículas subatômicas da carcacinha púbere se sincronizar com o som de discos reveladores, alucinógenos, “definitivos” etc. Alguns deles eram dos Pixies, grupo obscuro até entre aqueles que en...