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Tecnostalgia: DOS e Windows

Quando os "clones" do computador doméstico da IBM se popularizaram pelo mundo e, em muitas regiões, viabilizaram-se economicamente por integrar componentes comprados separadamente, eles começaram a se popularizar entre a classe média brasileira e finalmente chegaram à nossa casa no início da década de 90.

Todos utilizavam processadores x86. Os XTs eram mais numerosos no meio corporativo, os 386 apareceram nas escrivaninhas dos mais entusiastas e os 486, com modems e "kits multimídia", foram um fenômeno de consumo do Plano Real, junto com iogurte e frango. Os Pentiums foram, durante os primeiros anos, fantasmas cobiçados dos quais só se ouvia falar.

Bill Gates era tido por visionário e falava-se cada vez mais no Windows. Mas, no nosso Pentium de 90Mhz com 16MB de RAM (quase um mito na vizinhança), era o DOS que fazia as coisas acontecerem. Para quem não se lembra, funcionava assim: o DOS era o sistema operacional de fato, com controle direto sobre o hardware, enquanto o Windows, invocado por meio dos comandos win, Enter, era uma espécie de camada explicativa, com ícones e mouse no lugar de informações textuais e comandos escritos.

win, Enter

Mas o incipiente Windows 3.1 não fazia tudo que o DOS era capaz de fazer e, sobretudo, era extremamente instável e imprevisível. Se hoje boa parte dos usuários de computador nunca usou uma combinação de teclas, naquela época Ctrl+Alt+Del fazia parte do cotidiano dos "micreiros", como às vezes eram chamados os donos de microcomputadores, já que o Windows congelava com muita frequência. Se não fosse algum travamento completo, panes indicadas por descrições excessivamente técnicas no original (e porcamente traduzidas em português), ou pela assustadora denominação "erro fatal" tornavam a experiência do ambiente gráfico frustrante. 

A má gestão dos arquivos dos programas, dos resíduos temporários e a ausência de desinstaladores eficientes de programas tornavam ainda o uso continuado do Windows uma trajetória quase certa em direção à bagunça. O Windows 3.X era um quebra-galho, algo como um leitor de tela para os deficientes visuais: embora nos habilitasse para um universo de possibilidades, era imprevisível e com muita frequência encontrava empecilhos intransponíveis. Ainda assim, nesse ambiente frágil passei inúmeras horas utilizando o pacote Office para trabalhos de escola e consultas a enciclopédias em CD-ROM, explorando os recursos do Corel Draw e do PhotoPaint e, mais tarde, conectado via linha telefônica com ajuda do Trumpet Winsock, usando o Netscape Navigator, o pIRCh e algum programa de e-mail (o webmail veio bem mais tarde).

Orcuteiros, pasmem: nos anos 90, a moda era ser anônimo

Se o Windows era o espaço de descobertas e surpresas, o DOS era a sua faceta lógica, matemática, estável e previsível. Devo ter tentado usar o WinZip algumas vezes, por exemplo, mas, vendo que os resultados eram difíceis de controlar, voltaria ao DOS para resolver tudo com o confiável PKZIP. Os jogos para Windows eram de cartas e tabuleiro, passatempos meio monótonos, enquanto aqueles cobiçados de verdade - Stunts, Wolfenstein 3D, Monkey Island, Doom etc. - precisavam de acesso direto aos componentes e prescindiam daquela camada cosmética que era o Windows da época.

COM e IRQ bem explicadinhos

Era também no DOS que se "abria o capot" das configurações de BIOS, controladora, memória, IRQ e COM etc., muitas vezes depois de jumpear alguma placa com interruptores físicos. Nem sempre era fácil encontrar COM e IRQ para todos os componentes e periféricos, com frequência tínhamos que editar o AUTOEXEC.BAT e o CONFIG.SYS para que algum jogo novo rodasse (MEMMAKER e LOADHIGH nos acudam!) mas, uma vez acertadas, as coisas ficavam como estavam e o funcionamento da máquina era previsível. 

Diversão: chaves físicas para "jumpear" placas e drives

O Windows 95, lançado com enorme estardalhaço, deixou as coisas na fronteira gráfica mais tentadoras: havia papéis de parede coloridos e fotográficos, temas e barulhinhos (alguém se lembra do Windows "Plus!"?) e, principalmente, ferramentas mais adequadas para a internet. O Trumpet Winsock deixou de ser necessário para se conectar, havia um assistente para criação de conexão discada embutido. O Windows 95 ainda era explicitamente híbrido mas tendia a inverter as proporções: iniciava-se automaticamente ao ligar a máquina, como um verdadeiro sistema operacional, e trazia embutido um "Modo MS-DOS", que poupava o usuário de efetivamente encerrar o Windows para resolver algo por linhas de comando.

Fácil conectar no Windows 95, por linha de telefone fixo

O Windows 95, embora mais respeitável do que seus antecessores (e não limitar os nomes dos arquivos a oito caracteres, redenção!), e apesar de facilitar a instalação de componentes e acessórios ("Plug & Play"), ainda trazia bastante apreensão quanto à estabilidade, sobretudo por iniciar uma transição muito profunda, na qual teve um papel marcadamente anfíbio entre os ambientes de 16 e de 32 bits com multitarefa aprimorada. 

E o Windows 98 ajudou pouco nesse sentido. Não porque era visualmente difícil de distinguir de seu antecessor nem porque melhorou a gestão de USB, mas por trazer outros problemas ao inaugurar um novo sistema de drivers (WDM), que transformou muitas peças e periféricos em sucata (eu perdi um scanner de mesa) e ser, em determinados casos e configurações, mais instável, resgatando travamentos espontâneos e congelamentos inexplicáveis do Windows 3.1. Uma segunda edição parece ter aprimorado o sistema, porém depois que muitos já tinham passado raiva, perdido trabalhos e equipamentos. 

"Descontinuado" pelo Windows 98 😥

Tenho quase certeza de que, meio desconfiado dos lançamentos anteriores, pulei o Windows 2000 (não vale a pena mencionar o Me). Mas já na faculdade, tive um colega com quem conversava sobre música e que me surpreendeu, quando conversávamos por acaso sobre informática, ao dizer que pretendia comprar um computador novo e aproveitar melhor o Windows XP, em lançamento na época. Aquele comentário atiçou minha curiosidade e reavivou uma certa comichão de micreiro, meio dormente àquela altura. (Alguns anos depois, me lembro de instalar o Firefox 1.0, que trazia o sistema de abas inventado no Opera. O programa ainda não estava traduzido em português e eu comentei com ele que tinha achado interessantes as "linguetas".) 

Não me lembro de quando instalei o Windows XP mas, já no primeiro login, ele apresentava um ambiente inteiramente renovado. O esquema de cores podia dividir opiniões, mas trazia a promessa de algo novo, o que se confirmava ao de fato utilizar o sistema. O XP já estava bem alinhado ao uso do PC como ponto focal da vida contemporânea das pessoas, sobretudo quanto ao armazenamento e o consumo de bens culturais: o Windows Media Player havia sido aprimorado para oferecer uma gestão centralizada de música e vídeo, era uma solução completa e burilada para mostrar-se atraente: à moda do lendário Winamp, as skins lhe conferiam um estilo camaleônico. 

Cada um no seu quadrado, com direito a figurinha

O XP trazia a possibilidade de se criarem diferentes contas de usuário, algo importante numa época em que o computador ainda era muitas vezes um equipamento compartilhado por familiares, e também uma conta de visitante, mais restrita. Para cada um, sugeria uma figurinha simpática. Sistema adentro, cores, explicações, pequenos indicativos visuais e sonoros tornavam o uso mais fácil para os iniciantes. Até então, o Windows parecia uma ferramenta corporativa sendo portada para uso doméstico, a partir do XP, passou a apelar para o usuário individual. Gravar CDs e DVDs, por exemplo, algo que se fazia a torto e a direito na época, foi facilitado ao extremo no novo sistema: os ícones de um disco reluzente pronto para ser gravado eram onipresentes. 

CDs, CDs e CDs

O fato de a primeira versão do Windows XP incluir Like Humans Do, do David Byrne, prontinha para ser escutada no Media Player aberto pela primeira vez, é talvez o pormenor mais simpático de que tenho recordação na experiência de usar produtos da Microsoft (embora se tratasse de uma versão censurada). É uma ótima faixa e me remeteu aos vinis dos Talking Heads que escutava na infância. E Highway Blues, do Marc Seales, também incluída, introduziu um toque de sofisticação que talvez esteja na raiz de minha fase jazzística de logo depois.

Campina ensolarada, Media Player e vastas coleções de MP3: bons tempos

Para além de dar aos microcomputadores domésticos um aspecto finalmente pessoal de fato, o Windows XP era estável. Quem trabalhava, escrevia teses e atuava em projetos complexos podia enfim erguer as mãos aos céus e agradecer a confiabilidade do sistema, herdada da versão NT (corporativa, ironicamente), que, aliada à aparência e experiência humanizadas, tornou o uso da maioria dos computadores do mundo muito mais previsível e agradável. Depois de anos e anos sofrendo o Windows, pudemos finalmente desfrutar a informática pessoal.

O XP foi provavelmente a versão do Windows que utilizei ininterruptamente durante mais tempo (o Windows 10 é longevo, porém passou por transformações profundas). Era tão confiável e "comoditizado" que eu me esqueci dele. Era simplesmente algo que me viabilizava fazer o que queria no computador. Se a Microsoft tivesse desistido de lançar novos sistemas operacionais, talvez eu o estaria utilizando até hoje, sem atinar para sua existência.  

Mas a Microsoft não desistiu da vida, obviamente, e comecei a ouvir rumores do Windows Vista lá por 2005, provavelmente em notícias de seus atrasos e obstáculos. Um pouco mais tarde, vi pessoas com laptops baratos sofrendo para tentar fazer algo no novo sistema, sem saber como desabilitar as constantes mensagens do controle de conta de usuário (UAC). Satisfeito com meu velho equipamento, que não precisou ser formatado anos a fio, sequer cogitava migrar de sistema operacional: parecia-me algo como passar por uma cirurgia inteiramente desnecessária por escolha própria.

Em retrospecto, esse talvez tenha sido o período em que o computador chegou para mim mais perto do que deveria idealmente ser: uma ferramenta para gerir, produzir e apreciar meus textos, minhas coleções de música, revistas em quadrinhos e fotografias, e não um assunto em si mesmo.

N, O, S, T, A, L, G, I, A.

Uma hora aquele computador tornou-se, porém, velho demais para continuar a ser usado. E então comprei um novo, com monitor de cristal líquido, vendido por uma montadora nacional como um produto de prateleira, e não à moda Frankenstein. Este computador vinha com uma licença autêntica do Windows Vista.

O tão execrado Vista proporcionou, de longe, a minha melhor experiência com um computador novo, neste caso comprado quando o sistema já tinha mais de um ano e meio de lançamento e já estava razoavelmente amadurecido. O fato de ter vindo pré-instalado, poupando-me de lidar com as "entranhas" da máquina, provavelmente contribuiu para a aura de integridade do equipamento. Se o XP trazia finalmente o que todos precisávamos e esperávamos havia anos, o Vista foi além, explorando as possibilidades técnicas da época para oferecer um certo deleite visual, com transparências vítreas e a barra lateral de applets, funções talvez mais avançadas do que a maioria dos usuários médios poderia precisar, ainda mais estabilidade no dia a dia e ferramentas de segurança melhores.

Hoje o Windows Vista começa a ser reconhecido como a versão visualmente mais consistente do sistema, graças em boa parte ao conjunto de aplicativos verdadeiramente funcionais e robustos que trazia de fábrica. Muitos dos Windows anteriores vinham pré-carregados com ferramentas medíocres ou fracas, que ficavam no caminho do usuário enquanto instalava os programas que efetivamente ia usar. No Vista, o Windows Mail, o DVD Maker, o Calendário e a excelente Galeria de Fotos, além do Media Player atualizado, eram efetivamente úteis e funcionais. Acabamento gráfico, esquema de cores e bordas comuns perpassavam todos esses programas, por sua vez coerentes com a aparência das janelas do sistema propriamente dito, resultando numa atmosfera quase sempre harmoniosa, além de prática.

Flip 3D: win + Tab só para ficar olhando essa belezura

Usei-o nesse único computador, que não tinha placa de vídeo dedicada, mas que o executava com facilidade, inclusive o impressionante Dreamscene, um "fundo de tela" em vídeo de alta resolução, com tomadas fantásticas de vida natural. O Windows DVD Maker, embora levasse um tempo incivil para processar os projetos, criava facilmente discos realmente impecáveis. Nele criei ótimos discos com episódios de Lost para assistir na televisão e emprestar aos amigos.

O Windows Vista foi o que mais se aproximou do seu coetâneo Macintosh OS X na fase dos grandes felinos, seja pela experiência visual e funcional integrada, seja pela qualidade dos programas básicos pré-instalados, um ponto forte da Apple. Foi também o sistema que marcou a renovação de minha fixação pelos computadores enquanto hobby e não simples ferramenta. Nessa época, explorei tudo o que minha curiosidade alcançava sobre o tema, instalei o Linux Mint em dual-boot e, aproveitando que a Apple utilizava processadores Intel por então, consegui até mesmo rodar o OS X Leopard "nativamente".

Eu mais seis pessoas mundo afora sentimos saudades de você, amigo

Quando começou a se falar no Windows 7, portanto, eu estava com as duas orelhas em pé, e instalei-o já na versão beta. Inquestionavelmente, era um excelente sistema. Mais leve, mais enxuto, com botões no lugar de rótulos com texto na barra de tarefas e inicialização bem mais rápida, era uma versão ambiciosa. Pouco teria a dizer desse acerto da Microsoft para além do ótimo Windows Media Player 12 e da excelente busca integrada integrada ao menu iniciar que, se herdada do Vista, parecia funcionar de forma mais completa e ágil no 7.

Se, por um lado, era inevitável abraçar o Windows 7, por outro, a elegância do Vista se perdeu em certa medida. Principalmente, a coleção de aplicativos integrados foi terceirizada para o pacote Windows Live Essentials, que, embora excelente, nunca proporcionou a experiência de integração de seus antecessores com o Vista. É uma migração compreensível, contudo, já que os serviços digitais consolidavam sua transição para o ambiente online - o Essentials, por exemplo, passou a incluir o SkyDrive (hoje OneDrive) a partir de certa altura, o aclamado Live Writer, para blogues, e tanto sua Galeria de Fotos quando o (excelente) Movie Maker integravam-se aos principais serviços de armazenamento online para uploads. Era o sinal dos tempos, e programas assim precisavam ser atualizados, com frequência maior do que antes, para não perderem funcionalidades críticas.

Podia ter sido você, Setão. Para sempre...

O Windows 7 tinha, como o XP, potencial para permanecer como "edição definitiva" do sistema, mas a Microsoft tinha planos melhores. O Windows 8 foi empurrado para a sarjeta da história não só porque incorporou uma inovação brusca demais, mas também porque marca uma guinada em uma direção que a própria fabricante concluiu não ser a melhor, nem a que os usuários precisavam ou queriam. Aparentemente, o advento dos smartphones deixou a Microsoft, já em alerta com o crescimento dos serviços online, perdida quanto ao que fazer com os bilhões de computadores da Terra que se valiam do seu sistema operacional.

O Windows 10 chegou então com a proposta - pela primeira vez intencional - de ser a edição definitiva do sistema. Mas não uma edição estática: seria constantemente atualizado e aprimorado, segundo a doutrina do "software como serviço". O serviço da Microsoft foi então, basicamente, desfazer o delírio futurista à Mondrian do Windows 8 para reaproximá-lo do que havia antes. Para tanto, nos submeteu a atualizações, atualizações, atualizações e mais atualizações durante os mais de cinco anos até o anúncio do seu sucessor.

...mas aí veio a edição Mondrian.

Longe de ser um produto ruim - em condições normais, foi certamente o melhor Windows, estável e capaz de isolar programas e componentes em mau funcionamento - o 10 reintroduziu entre nós o fantasma da imprevisibilidade de nossos computadores. Não foram poucas as vezes em que, burilando e configurando pormenores de minha máquina, cheguei a uma configuração perfeita para meu uso, funcional, prática e estável. Apenas para vê-la, dali a algumas semanas, comprometida por alguma das infinitas atualizações do sistema, que passaram a ser obrigatórias para os usuários domésticos.

Programas básicos que deixam de funcionar e travam (como o embutido e profundamente temperamental Windows Fotos), programas elementares e cheios de potencial que, a despeito das atualizações quase diárias, parecem abandonados (Windows Mail), súbitas novas funções que quase ninguém usou e que rigorosamente ninguém compreendeu ("Pessoas" na barra de tarefas), entre outros tropeços, nos deixam com uma impressão de improviso e experimentação aleatória.

Mais sérias ainda foram as alterações que comprometeram o funcionamento de hardware, como o famoso bug das impressoras e as atualizações que não se concluem, deixando os usuários presos de fora de suas máquinas. Eu, por exemplo, a certa altura, tive problemas com as conexões USB, que passaram, depois de determinada atualização, a falhar repetidamente em pequenos intervalos. Se estava escrevendo um longo texto, por exemplo, a cada três ou quatro palavras via um balão de "dispositivo desconectado" e uma letra falhava, para voltar a funcionar segundos depois. 

Percorri obsessivamente todas as configurações possíveis relacionadas ao problema, da BIOS ao gerenciador de dispositivos, e cheguei a pensar que minha placa controladora ou a placa-mãe estivessem dando sinais de cansaço. Comprei até um novo teclado, mas o problema persistiu, até que, algumas atualizações depois, desapareceu da mesma maneira inexplicável que havia aparecido.

🤬

Mais recentemente, o célebre bug do uso de 100% do disco, do qual passei ileso cinco longos anos, resolveu dar as caras em meu sistema em momentos imprevisíveis e, durante a escrita deste artigo, tive que reiniciar meu computador para resgatá-lo do efeito câmera lenta. 

No saldo geral, talvez o Windows 10 seja lembrado não como o sistema que assentou as fundações de seu sucessor, mas como uma versão de transição, durante cujos cinco anos de desenvolvimento a fabricante tratou de desfazer absolutamente tudo que havia vislumbrado após o Windows 7. A própria Loja da Microsoft - talvez o último resquício da influência dos sistemas de smartphones sobre o Windows - depois de anos abandonada e de nunca ter deslanchado, está sendo ressignificada no Windows 11 como um portal de acesso, longe da proposta de ambiente controlado de aquisição e gestão de programas. 

Os programas da loja, aliás, e principalmente os da própria Microsoft, conseguiram "inovar" ao trazer um bug inédito na história do sistema, e que joga por terra o que era um diferencial do Windows em relação à concorrência: não importa o que se faça, eles não se restauram para o tamanho de janela que se definiu manualmente da última vez (PowerToys nos acudam!).

A melhor notícia relativa ao Windows 10 seja talvez, portanto, o anúncio do Windows 11: para "compensar" o sarrafo elevado para instalação da nova versão, a Microsoft prometeu pelo menos mais cinco anos de suporte para o 10, que, obsoleto pelo anúncio, não vai mais receber atualizações transformadoras, mas tão somente de manutenção e segurança, provavelmente com menor frequência (uma das "características" anunciadas para seu sucessor). Talvez, nesses cinco anos de lambuja, os usuários do Windows 10 finalmente reencontrem a previsibilidade e a estabilidade que não viam desde o Windows 7.

Tanto espaço perdido, tão difícil manter as janelas do tamanho certo...

A pressa no lançamento do Windows 11, claramente inacabado, imaturo e, até agora, sem "justificativa" importante além da nova estética, pontua uma nova inflexão em minha relação com essas máquinas. Embora me entusiasme com novidades, vinha, talvez pela idade, sentindo um certo cansaço diante dos ciclos comerciais do "software como serviço", ilustrados exemplarmente por ofertas como o iCloud, que leva usuários sem capacidade técnica de esvaziar seus telefones sobreprecificados a pagar dízimos ad eternum, ou o Office 365, por meio do qual se passou a cobrar mensalidade para o uso de um pacote de programas que, até pouco tempo, ninguém sequer se lembrava de atualizar. 

Hoje, com muito mais disponibilidade de dinheiro para gastar com equipamentos e mensalidades do que nos primórdios do Windows, e quando a dependência de serviços "em nuvem" prestados por um número cada vez menor de empresas gigantescas cria raízes nos hábitos de uso de todos, tenho paradoxalmente visto cada vez mais sentido no software livre e em soluções alternativas, que devolvem um pouco do controle de dados e sistemas aos próprios usuários. Acho que finalmente compreendo um pouco do que queriam dizer os seus militantes e, embora migrar para o Linux seja uma alternativa secundária, adotar programas de código aberto tem me confortado no sentido da previsibilidade.

"Passa amanhã!"

Tenho uma máquina habilitada para a nova versão do Windows mas, pela primeira vez em muitos anos, ainda nem me passou pela cabeça atualizá-la. Provavelmente o faça daqui a um bom tempo, depois que o sistema estiver mais amadurecido e não for necessário lidar com atualizações três vezes por semana seguidas de surpresas. É no meu computador teoricamente inapto que reside a esperança de finalmente chegar a alguma forma final e, em última análise, não pensar mais no Windows ao usá-lo do que penso no batente da janela quando me apoio para contemplar o final do dia.

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